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O Radão: Um Gás Invisível com Impactos Reais na Saúde

O Radão é um gás radioativo natural que tem ganhado atenção em Portugal devido aos seus potenciais riscos para a saúde. Embora invisível e inodoro, a sua presença em ambientes fechados pode representar um perigo significativo. Este artigo explora o que é o Radão, as suas fontes, os riscos associados e como Portugal está a lidar com este problema.

O que é o Radão?

O Radão é um gás nobre radioativo, resultante do decaimento natural do urânio (U238) presente no solo e em rochas. É incolor, inodoro e insípido, o que o torna impercetível sem equipamentos específicos. O isótopo mais comum e preocupante é o Radão-222, que emite partículas alfa durante o seu decaimento e tem um tempo meia-vida (tempo gasto necessário para que a quantidade de uma matéria se reduza à metade) de cerca de 4 dias.

Fontes de Radão?

Em Portugal, as principais fontes de radão incluem:

–  Solos e rochas: Granitos, calcários e solos ricos em urânio, são as principais fontes.

–  Água subterrânea: Poços e furos podem libertar radão quando a água é transferida de local e/ou utilizada em casa/industrias.

–  Materiais de construção: Alguns materiais, como certos tipos de granito ou tijolos, podem emitir Radão

Riscos para a Saúde

O Radão é a segunda causa de cancro do pulmão, a seguir ao tabagismo. Quando inalado, as partículas alfa emitidas pelo Radão podem danificar o tecido pulmonar, aumentando o risco de desenvolver cancro. Estima-se que, em Portugal, o Radão seja responsável por centenas de casos de cancro do pulmão anualmente.

O Radão contribui com cerca de 55% da exposição humana à radiação natural e pode entrar no nosso organismo de duas formas: por inalação (cerca de 90%) e por ingestão (cerca de 10%).

Segundo a OMS uma exposição acima de 100 Bq/m3(Becquerel por metro cúbico) representa para o ser humano o equivalente a 135 Raios-X/ano ou 5 cigarros/dia.

Como Podemos Estar Expostos?

A exposição ao Radão ocorre principalmente em ambientes fechados, como residências, escolas e locais de trabalho. O gás infiltra-se através de:

–  Fissuras no pavimento ou paredes.

–  Juntas de construção.

–  Ralos e aberturas de esgotos.

–  Água proveniente de poços ou furos.

Níveis Considerados Seguros

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um nível de referência máximo de 100 Bq/m³ (Becquerel por metro cúbico) para concentrações de Radão em ambientes internos. Acima deste valor, medidas de mitigação devem ser consideradas.

Legislação e Regulamentação em Portugal

De acordo com o regime jurídico de proteção radiológica em vigor atualmente em Portugal, a APA, enquanto autoridade competente e designada para o efeito, encontra-se a elaborar o Plano Nacional para o Radão (PNR). As principais medidas incluem:

–  Obrigatoriedade de medição de Radão: Nos locais de trabalho, um primeiro diagnóstico até dezembro de 2025 e posteriormente adotar a periodicidade recomendada no PNR.

–  Limites legais: Decreto-Lei n.º 108/2018 estabelece uma concentração média anual de atividade de radão de 300 Bq/m3 para habitações e outros edifícios com altos fatores de ocupação por membros do público e para locais de trabalho.

–  Planos de ação: As autoridades locais devem identificar áreas de risco e promover ações de mitigação.

Como Medir o Radão

A medição do Radão é simples e acessível. Em Portugal, podem ser utilizados:

–  Detetores de Radão passivos: Pequenos dispositivos que são colocados em casa ou no local de trabalho durante alguns meses (entre 3 a 12 meses).

–  Detetores eletrónicos: Fornecem leituras em tempo real, mas são mais caros e precisamos de registos de cerca de uma semana para podermos ter valores com alguma exatidão.

–  Serviços especializados: Empresas e laboratórios certificados oferecem medições e relatórios detalhados.

Como Mitigar o Radão

Se os níveis de Radão forem elevados, existem várias técnicas para reduzir a sua concentração:

–  Ventilação: Aumentar a ventilação natural ou mecânica em edifícios.

–  Sistemas de pressurização: Impedir a entrada de Radão através da criação de pressão positiva no interior.

–  Selagem de fissuras: Fechar rachaduras no pavimento e paredes através de materiais adequados à prevenção e remediação da entrada do gás Radão nos edifícios.

–  Sistemas de sucção no solo: Instalar tubos para extrair o Radão do solo antes que entre no edifício.

Casos de Estudo em Portugal

Portugal tem várias regiões com níveis elevados de Radão, destacando-se:

–  Guarda e Viseu: Devido à presença de granitos, estas regiões apresentam concentrações de Radão acima da média nacional.

–  Castelo Branco: Estudos identificaram níveis elevados em algumas escolas e residências.

–  Açores: A atividade vulcânica contribui para a presença de Radão em certas áreas.

Um exemplo notável é o projeto “Radão nas Escolas“, que mediu e mitigou o Radão em várias escolas do país, garantindo um ambiente mais seguro para alunos e funcionários.

Conclusão

O Radão é um problema de saúde pública que exige atenção e ação. Em Portugal, a legislação e as medidas de mitigação estão a evoluir, mas a consciencialização da população é crucial. Medir o Radão em casa ou no local de trabalho é o primeiro passo para garantir um ambiente seguro. Com informação e ação, podemos reduzir os riscos associados a este gás invisível.